quarta-feira, 18 de setembro de 2024

CONVERSANDO SOBRE O AUTISMO - DSM 5 e autismo: respondemos 7 dúvidas comuns!


O DSM 5 é a edição mais nova e atualizada do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. A publicação deste material é feita de tempos em tempos e vale internacionalmente, inclusive no Brasil. O atual está em vigor desde 2013. O objetivo é, de fato, auxiliar os profissionais que cuidam de transtornos da mente a padronizarem os diagnósticos. Por isso hoje vamos falar sobre DSM 5 e autismo. O que, afinal, o manual diz sobre o TEA?

Com base num artigo do site Autism Speaks, que é uma referência internacional, nós reunimos aqui 7 perguntas comuns sobre o assunto. A seguir, nós vamos, então, explicar de maneira fácil o que você precisa saber sobre a relação de DSM 5 e autismo.

1 – Quais são os critérios da atualização do DSM 5?

A cada nova versão do DSM 5, novos critérios de diagnóstico são adicionados. Mas, afinal, com base em que isso é feito? A Associação Americana de Psiquiatria, que é quem faz o manual, atualizou as partes sobre autismo considerando as seguintes coisas:

Maior precisão do diagnóstico.
Avaliação dos níveis de gravidade do TEA.
Identificação de todos os sintomas que levam, portanto, à necessidade de intervenções, tratamentos e serviços de suporte.

2 – Como o DSM 5 muda o diagnóstico do autismo?

Nas partes do DSM 5 sobre autismo você encontra 6 novas mudanças.

1 – Mudança na nomeação

Agora, as 4 nomenclaturas ANTERIORES que nomeavam o autismo tem um único nome. Portanto, a partir do DSM5, o autismo é apenas chamado de Transtorno do Espectro do Autismo.

Até o DSM 4, o diagnóstico do autismo poderia receber um destes 4 nomes:Transtorno Autista.

Síndrome de Asperger.
Transtorno desintegrativo infantil.
Transtorno Invasivo do Desenvolvimento.

2 – Consolidação de 3 categorias já existentes

Assim como no DSM 4, o autismo continuou sendo encaixado nas seguintes categorias:

Deficiência Social.
Dificuldades de linguagem e comunicação.
Comportamentos repetitivos e/ou restritivos

3 – Adição de problemas sensoriais

Na nova edição do manual, novos problemas sensoriais estão adicionados na categoria de comportamento restritivo e/ou repetitivo. O que, na prática, inclui:Hiper ou hiporreatividade a estímulos, assim como luzes, sons, sabores, toque etc.
Interesses incomuns em estímulos, assim como olhar para luzes, fixação em objetos que giram, entre outros.

4 – Nova escala de avaliação em graus

Embora seja bem amplo, agora, o autismo tem uma escala definida de avaliação baseada no nível de dependência da pessoa. Como já falamos por aqui, o TEA é, atualmente, dividido em graus 1, 2 e 3. Ou, basicamente: leve, moderado e severo.

A seguir, uma rápida explicação de como é cada grau de autismo.

Grau 1 – autismo leve

No autismo leve, o nível de dependência de outro adulto para a maioria das tarefas é baixo. Os maiores déficits são, portanto, nas dificuldades de comunicação. O autista passa por desinteressado e fechado à interação com outras pessoas. Além disso, no autismo de grau 1 há menos comorbidades associadas. Se bem estimulado com terapias, o autista leve pode, por exemplo, estudar numa escola típica, sem que haja grandes adaptações para o aluno especial.

Grau 2 – autismo moderado

No autismo de grau 2, as dificuldades de comunicação podem ganhar contornos mais acentuados. 

Como, por exemplo, a falta da verbalização. Aqui, mais comorbidades aparecem e somam-se no diagnóstico. Em algumas coisas o autista de grau 2 consegue evolução e até independência. Porém, em outras, ele ainda terá mais dificuldades e pode depender de um adulto, mesmo depois da infância.

Grau 3 – autismo severo

Aqui, existem prejuízos muito mais graves. Não apenas relacionados à socialização como ao funcionamento geral de corpo e mente. A resposta dos autistas severos aos estímulos é bem menor e eles, sim, evidenciam o autismo como uma forma de deficiência. Ainda que “deficiência” seja uma palavra um pouco controversa. Esse autista é aquele que dificilmente vai ganhar alguma independência, pois precisa de ajuda mesmo em tarefas básicas do dia a dia.

5 – Avaliações adicionais

Outra novidade no DSM 5 são as possibilidades de avaliações adicionais para os seguintes casos:

Qualquer causa genética conhecida como Síndrome do X-frágil ou a Síndrome de Rett.
Nível de linguagem.
Deficiência intelectual.
Assim como a existência de condições médicas que estejam, de fato, associadas ao autismo. Podem ser, por exemplo, convulsões, distúrbios gástricos, ansiedade, problemas do sono, e várias outras.

6 – Novo diagnóstico relacionado à comunicação

Pelo manual, agora alguns problemas relacionados à comunicação também podem ser nomeados no diagnóstico. Ou seja, pode ser que o autista receba o laudo de distúrbios da comunicação social sem comportamentos restritivos ou repetitivos.

3 – Como ficam as pessoas diagnosticadas antes do DSM 5?

Muitas pessoas, antes do DSM 5, tiveram diagnósticos um pouco diferentes dos de agora. Por exemplo, quem teve o laudo de Asperger. Se agora, então, termos como Asperger não são mais clinicamente utilizados, será que existe alguma mudança para estas pessoas?

Mas o DSM 5 já previu essa questão e dá uma resposta.

Para o novo manual, quem tem diagnósticos fechados com base no DSM 4 para trás, será considerado, daqui para frente, apenas no transtorno do espectro do autismo. Mas, para isso, o correto é receber uma atualização do diagnóstico. Ou seja, essa atualização não anula o diagnóstico anterior, mas também não dá uma atualização automática. O novo diagnóstico fica por escolha da pessoa ou dos pais.

É por isso que não utilizamos mais o termo Asperger.

4 – E quem não quer atualizar o diagnóstico?

Muitas pessoas se identificam com o diagnóstico de Asperger, sendo essa uma percepção que vai além do que os médicos determinam. Para uma atualização, os profissionais, na teoria, ainda podem utilizar o termo Asperger. Porém, é obrigatório que eles também utilizem a atual codificação do DSM 5 no boletim médico, apontando formalmente para o termo novo, que é Transtorno do Espectro do Autismo.

5 – O que é o novo diagnóstico de distúrbios da comunicação social?

O novo diagnóstico de distúrbios da comunicação social é aplicado a pessoas que têm problemas contínuos do uso social da linguagem. Porém, são aquelas que não têm os interesses restritos ou os comportamentos repetitivos. Antes, essas pessoas recebiam uma nomenclatura chamada de PDD-NOS.

Porém, diferente do caso anterior, somente os autistas diagnosticados no período do DSM 5 podem receber o laudo com o novo termo. Portanto, o diagnóstico novo não pode ser dado de maneira retroativa.

6 – O distúrbio da comunicação social está dentro do autismo?

O que é preciso entender aqui é que esse distúrbio da comunicação social é uma das comorbidades do autismo. Porém, sozinho, ele não caracteriza o autismo. Pessoas diagnosticadas dentro do espectro do autismo podem – também – ter o distúrbio da comunicação social.

7 – Como fica o acesso aos serviços de saúde se o diagnóstico estiver desatualizado?

Esta é, de fato, uma das perguntas mais importantes. Afinal, o laudo médico é utilizado para ter acesso a vários direitos. E isso vale tanto para o autista quanto para o responsável.

Mas a resposta desta pergunta é: depende. Em cada ocasião haverá um tipo de exigência. Por exemplo, enquanto a gente fazia pesquisas para escrever este artigo, ficamos sabendo de uma mãe que precisou apresentar o laudo no trabalho por conta do filho. O menino é autista severo. Porém, mesmo sendo maior de idade, depende completamente da mãe. A mãe, na ocasião, precisava se afastar do trabalho para cuidar do filho. Ela, no entanto, deu conta de que o diagnóstico estava como Asperger que, como sabemos, era o termo para autismo leve.

Essa mãe dificilmente conseguiria o direito com esse laudo não apenas desatualizado, como equivocado.Já que, se o filho fosse de fato, um autista funcional aos 18 anos, não haveria necessidade de pedir o afastamento do trabalho. Para isso, ela foi em busca da atualização. O que fica aqui evidenciado é que a atualização é importante, mas nem sempre ela vai ser necessária. Se algum dia você se deparar com uma negativa de algum órgão em permitir o acesso por conta de um diagnóstico feito antes de 2014, fique atento. Na prática, isso não deveria acontecer. Porém, vai ser preciso chegar a um consenso se, naquele caso específico, vale mais a pena atualizar o diagnóstico ou não.

A importância do diagnóstico bem feito

Para entender a importância do DSM nós precisamos, de fato, olhar para a história da ciência e da sociedade. Em relação ao transtornos mentais, sendo o autismo ou outros, há sempre novas visões médicas que vão, aos poucos, corrigindo ideias anteriores. Se não fossem por essas mudanças, ainda estaríamos reproduzindo a mesma mentalidade que levaram os nazistas a tirarem autistas mais severos de circulação.

Mesmo na história recente, digamos, de 20 anos atrás, o diagnóstico de autismo ainda era precário. 

Quantas pessoas já passaram uma vida inteira sem respostas! Por isso, autistas e seus familiares precisam acompanhar de perto as atualizações do DSM. Não sabemos ainda quando e se haverá um próximo manual. Porém, é certo que ainda temos muito a aprender sobre o autismo.

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