O barro do chão, único item ileso naquele sítio, fica encharcado todos os invernos. Há alguns metros dali, a aposentada Maria Eugênia da Conceição espera pelo pior. Não sabe sua própria idade ao certo, nem o ano em que nasceu, mas compreende que as grossas rachaduras nas paredes que a abrigam guardam perigo. “Surgiram no último mês. Eu fico com medo, toda vez que chove”, contou. Os vizinhos confirmam. Outras rachaduras já tinham aparecido, menores, e foram preenchidas com cimento.
A parede da casa de Gileuza Souza, 42, envergou como um bambu. Parece criação de Gaudí. É o conhecimento de um pedreiro da família que lhe tranquiliza. “Basta pôr uns ferros.” É o mesmo saber que reproduz: “drenamos a água de cima e ela cai na voçoroca”.
Poucas ruas de distância do prédio que desabou, há uma casa em ruínas. Vacila sobre uma encosta que foi escavada demais. Um empresário comprou o terreno que está abaixo dela com o intuito de erguer um edifício, mas, na hora de construir, cometeu um erro. O muro da casa ao lado também está condenado.
As outras residências da rua Cláudio Manoel da Costa, no bairro de Aluísio Pinto, também foram sendo erguidas assim, apenas com o conhecimento dos pedreiros. A questão é que o solo de algumas áreas de Garanhuns é peculiar. “Aqui no bairro as casas precisam ter uma fundação muito profunda e um dreno que desça a água que se acumula na parte superior. Todas têm”, avaliou Alcir da Silva, 42, pedreiro há duas décadas. Construiu, inclusive, a casa que está com o muro condenado. “Furamos um poço ali com três metros de profundidade.”
A falta de um responsável técnico, somada ao solo peculiar de algumas áreas de Garanhuns, é um risco. É consenso entre os vizinhos - embebidos apenas de conhecimento popular -, inclusive, que o prédio que caiu na segunda foi consequência desse risco. “Ali havia um poço que, com a chuva, ficou próximo da superfície. Ele fez um lençol que tirou a base do prédio que havia naquele local e o fez cair. Isso ocorreu em 2008. Acreditamos que isso tenha acontecido novamente desta vez”, comentou um dos vários defensores da tese. A confirmação - ou o contrário - dela acontece após investigação da Polícia Civil, ainda sem previsão de conclusão.
Fonte: Folha PE

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