As várias fases e principais músicas dos 42 anos de carreira do cantor e compositor cearense no cenário da MPBM
O cantor e compositor Belchior, nos anos 80 (João Santos/Revista Contigo)
Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes, que morreu neste sábado aos 70 anos, era
apenas um rapaz latino-americano, sem dinheiro no banco, sem parentes
importantes e vindo do interior – do Ceará, da cidade de Sobral – quando
abandonou a faculdade de Medicina no quarto ano e o Nordeste para tentar a
carreira na música. Era 1971, cinco anos antes de sua grande obra-prima, o LP Alucinação, ganhar
as paradas. O destino foi o Rio de Janeiro.
Os anos que antecederam
à aventura já eram marcados pela música. Entre 1965 e 1970 participou de alguns
festivais. Pouco antes de largar tudo e rumar para o Rio, trabalhava em um
programa de TV que apresentou a nova geração da música cearense. Ficou pouco
tempo em terras cariocas e seguiu para São Paulo para encontrar o sucesso.
Com a canção Mucuripe, já em 1972, começou a mostrar sua cara e sua
música, como compositor, em uma parceria
com o também cearense Fagner.
A faixa foi gravada na voz de Elis
Regina. Dois anos depois, se lançou como cantor. O primeiro LP
trazia músicas como Na Hora do Almoço, A Palo Seco e Todo Sujo de Batom,
em uma época em que Belchior ainda não havia atingido os grandes
palcos e suas apresentações aconteciam em escolas, teatros e até
penitenciárias.
O
primeiro LP não vingou, mas Alucinação, de 1976,
consolidou sua carreira. A coletânea contava com as marcantes Velha Roupa Colorida, Apenas um Rapaz
Latino-Americano e Como Nossos Pais, outro grande sucesso eternizado por
Elis, desta vez regravado depois pela cantora.
Belchior
já gritava desesperadamente em português e algumas de suas letras mostravam a
angustia que o compositor demonstraria anos mais tarde, quando resolveu jogar
tudo para o alto e sumir do mapa. Mesmo assim, ainda atingiu o topo das
paradas nos anos 1970 e 1980 com composições como Galos, Noites e Quintais (regravada por Jair Rodrigues), Paralelas (lançada
por Vanusa) e Comentário a Respeito de John, uma homenagem para o
beatle John Lennon.
Auto-Retrato, de 1999, foi o último CD lançado por
Belchior. As polêmicas, os problemas financeiros e a reclusão marcaram as
últimas duas décadas da vida do artista. Não estava interessado em nenhuma
teoria, nenhuma fantasia, nem no algo mais. Abandonou o casamento de 35 anos
com Ângela Margareth Henman
Belchior no final
de 2006 para viver com a artista Edna Prometheu (nome utilizado por Edna Assunção
de Araújo), que conheceu um ano antes.
O
cantor estava afundado em dívidas e simplesmente foi embora. Abandonou o flat
onde morava com a mulher e os dois filhos, além de dois carros – um ficou no
Aeroporto de Congonhas e o outro em um estacionamento próximo à antiga
residência. Dois anos antes, já não aparecia mais publicamente, nem sequer
fazia shows. Tornou-se um foragido da polícia pela falta de pagamento de
pensão alimentícia à Ângela e uma outra mulher, com quem teve um filho fora do
casamento.
Uma
reportagem do programa Fantástico, da Rede Globo, em
agosto de 2009, encontrou Belchior em San Gregorio de Palanco, no Uruguai,
e revelou alguns de seus passos durante o período no anonimato. O
compositor negou que estivesse desaparecido e não quis falar sobre os problemas
financeiros, além de afirmar que continuava vivendo em São Paulo e prometer um
novo CD só com músicas inéditas, que nunca ganhou vida. Andanças pelo Sul
do Brasil e mais dívidas acumuladas em cada lugar que passou ao lado
de Edna marcaram seus últimos anos.
A fuga trouxe fama ao
cantor na internet e suas músicas passaram a ser ainda mais procuradas em sites
como YouTube e Spotify. Nada que trouxesse Belchior de volta aos holofotes.
Morreu neste sábado, dia 29 de abril, aos 70 anos, em
Santa Cruz do Rio Grande do Sul. A causa ainda não foi revelada.
Fonte: Veja
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