09 setembro, 2018

Fãs e amigos se despedem de Graça Araújo no Morada da Paz


Graça Araújo é velada no Cemitério Morada da Paz, em PaulistaFoto: Ed Machado/Folha de Pernambuco

Muitos fãs e amigos da jornalista Graça Araújo estiveram no Cemitério Morada da Paz, em Paulista, na manhã deste domingo (9), onde o corpo da apresentadora está sendo velado. Graçafaleceu nesse sábado (8) em decorrência de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) hemorrágico extenso.

Entre os presentes, estava o atual diretor da TV Universitária, José Mário Austregésilo, de 73 anos. José Mário era diretor da TV Jornal durante sua reestruturação, nos anos 1990. Ele resolveu lançar Graça, então chefe de redação, como âncora televisiva."Ela tinha o perfil. Conhecia o jornalismo. Acertamos em cheio. Em três meses superamos a concorrência", recordou. Ele destacou a seriedade de Graça em relação ao trabalho e o impacto que sua figura gerou na época. "Era uma mulher inteligente, negra e extremamente talentosa. A gente não tinha nessa época nenhuma apresentadora com o perfil de Graça", acrescentou José Mário, agradecendo "a amizade e a generosidade que ela tinha para comigo". 

O personal trainer Pedro Henrique Soares, que foi a última pessoa a conversar com Graça e chegou a lhe prestar os primeiros socorros, também foi se despedir da amiga. "Ela estava comigo, no momento do treino. Era o último exercício, estava prestes a ir para casa. Não tinha se queixado de nada, chegou normal na academia, tomou um cafezinho, bateu papo. Só estava um pouco calada e mexendo muito no celular, porque naquela tarde tinham esfaqueado um político. De repente, ela levantou da maca, segurou no meu braço e disse, 'estou passando mal, Pedro'. E aí caiu no chão", relatou.

Pedro conta que a cena foi muito chocante. "Deitei com ela no chão, segurei nos braços. Fiz o que pude, lá, na hora. Fiz massagem cardíaca, acompanhei Graça na ambulância e lá ela teve outra parada. Menos mal que aconteceu na academia, porque ela mora só e se tivesse acontecido em casa, não teria ninguém para prestar os primeiros socorros", afirmou. 

O professor de Educação Física contou que ainda não consegue acreditar no que aconteceu, mas que se sente privilegiado por ter sido a última pessoa a estar com ela. "Tenho um carinho muito grande por Graça e ela gostava muito de mim. Sei que ela não gostaria de ver ninguém chorando, Graça sempre falava que a gente deve sorrir pra vida e brindar a ela. Nunca a vi triste nem aperreada com nada, estava sempre feliz. Era uma mulher sábia, que vai deixar eternas saudades", disse, emocionado.

A cantora Cristina Amaral também compareceu ao velório e reforçou a mensagem de que é preciso falar de Graça com alegria. "Ela deixa um legado muito bonito", afirmou. "Fui entrevistada algumas vezes por ela. Ela gostava de forró, dizia que esse estilo de música dá vontade de dançar, mas não sabia dançar", riu Cristina, ao relembrar. "Graça era uma pessoa muito envolvida com com a cultura e com os artistas pernambucanos. Era super dada e fez muito pelo jornalismo, pela cultura, por tudo em que estava presente".

Público em geral compareceu ao velório

Entre os espectadores que admiravam o trabalho da apresentadora da TV Jornal e da Rádio Jornal e foram ao local prestar homenagens, estava Maria Pereira, de 77 anos, moradora de Igarassu. "Eu assistia o programa dela todos os dias, achava linda a voz dela, aquele gesto dela fazer o trabalho dela, muito delicada, atendendo as pessoas", disse.

O aposentado José Rosa Ferreira, de 70 anos, contou que sente como se tivesse perdido alguém da família. "A gente vai passar uns dias lembrando bastante. Quando a família da gente morre, a gente fica sentido, e é o que estamos sentindo por ela. Sinto que ela é uma pessoa próxima, ela era pobre igual a mim e morava no interior, mas ela estudou muito", afirmou.

O velório, aberto ao público, segue até as 15h. Das 13h30 às 14h30, amigos e familiares farão homenagens à jornalista na Capela Central. Em seguida, será realizado um culto evangélico pelo reverendo Ivan Rocha, da Igreja Episcopal Carismática. Após a cerimônia, haverá um momento restrito aos familiares para as últimas despedidas antes da cremação, às 16h.

AVC

A jornalista Graça Araújo passou mal em uma academia em Boa Viagem, na Zona Sul do Recife, no fim da tarde da última quinta-feira (6). Ela foi levada para o Hospital Esperança, na Ilha do Leite, na área Central do Recife, onde deu entrada às 19h10. 

Testemunhas que estavam na academia no momento contaram que a apresentadora teve uma crise convulsiva no local. O personal trainer Pedro Henrique e mais duas médicas se revezaram para fazer massagem cardíaca até o socorro chegar. Ainda segundo informações, Graça passou mais de 40 minutos desacordada, até o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) chegar e realizar procedimentos como o uso do desfibrilador. 

Apesar de ser doadora, os órgãos da apresentadora não puderam ser doados devido à evolução de seu quadro clínico. “Ela já vinha sendo monitorada pela morte cerebral, em coma profundo, desde ontem. Era um desejo dela fazer a doação de órgãos, expresso pela família. Infelizmente, por volta das 12h55 de hoje [sábado], subitamente, ela passou a ter uma falência das funções vitais. Nessas condições, não houve tempo de fazer o preparo necessário para a doação”, explicou a neurologista Silvia Laurentino.

Trajetória

Maria Gracilane Araújo da Silva nasceu em Itambé, na Zona da Mata de Pernambuco, em 2 de abril de 1956. Aos três anos, foi para São Paulo com a família, que buscava trabalho. Tinha sete irmãos e chegou a morar em uma casa com 10 pessoas. Aos 14 anos, já trabalhava para ajudar em casa. Pensou em estudar medicina, mas se encantou com o jornalismo quando trabalhou como secretária em uma revista.

Se formou pela Faculdade Integrada Alcântara Machado em 1987 e voltou para o Recife. O primeiro trabalho na capital pernambucana foi na rádio Transamérica. Em seguida, foi para a Rádio Clube. Passou pela TV Manchete, TV Pernambuco e se tornou chefe de reportagem da TV Jornal em 1990. Na emissora, ajudou na formatação do TV Jornal Meio-Dia, do qual foi âncora por 26 anos. Na época, Graça era a única apresentadora negra na televisão pernambucana. 

Graça Araújo também foi apresentadora na Rádio Jornal, também do Sistema Jornal do Comércio de Comunicação. Há 17 anos, comandou as tardes da frequência no programa Rádio Livre, do qual faz parte o famoso quadro Consultório de Graça, que reúne, diariamente, médicos para abordar diferentes temas relacionados à saúde. Em agosto deste ano, o programa sobre o câncer de cérebro conquistou o primeiro lugar na categoria rádio no Prêmio SBN de Jornalismo, da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia.

Também em agosto, a jornalista foi uma das homenageadas em sessão solene do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), recebendo condecoração concedida a profissionais que contribuem para melhorar o trabalho da Justiça no Estado. Também foi homenageada no livro "Sucesso: o que elas pensam", que reúne 150 mulheres que contam como chegaram ao sucesso profissional. Em entrevista publicada no site da TV Jornal em novembro de 2011, a apresentadora falou sobre sua escolha de ser jornalista. "Eu vi que o jornalismo é capaz de curar muitas feridas profundas, fazer transformações. Isso se você faz teu trabalho com responsabilidade, com ética e com disciplina, né?", disse.

Na vida pessoal, era conhecida por fazer atividades físicas e participar de corridas, conquistando várias medalhas. Nas suas redes sociais, era comum ver fotos da apresentadora praticando exercícios na academia ou correndo ao ar livre. Ela chegou a disputar a Maratona de São Silvestre, em São Paulo, onde estreou em 2010, e a Maratona de Paris.

FONTE: Portal FolhaPE, com informações de Etiene Ramos 

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